Quando chegou no Brasil, há 39 anos, a portuguesa Fátima Garcia, hoje com 65 anos, veio com sua filha pequena e o marido. A família estava fugindo do frio de Portugal. A vida em novas terras trouxe também mudanças para a vida de Fátima. O casamento terminou pouco tempo depois e ela saiu em busca de trabalho pelas ruas do Recife. Encontrou oportunidade na Padaria Imperatriz, onde trabalha há 29 anos. 

Ela desempenha a função de chapeira e é responsável por fazer sanduíches, cachorros-quente e servir a famosa pizza da casa. A portuguesa gosta de chegar cedo no trabalho, a padaria abre às 7h e ela já está pronta e com um sorriso no rosto para receber os amigos. Sim, alguns clientes se tornaram amigos.

“Tenho clientes que vinham aqui quando eram crianças e jovens e hoje voltam na padaria já com seus filhos. Outras famílias ainda vêm com avós, pais e netos. Esses dias veio um cliente antigo, que vinha sempre com os avós, ele disse que em breve voltaria para trazer o filho dele. Eu amo meu trabalho, amo conhecer gente, adoro conversar e adoro o que eu faço. Aqui, os clientes viraram amigos, tem cliente que vem todos os dias. Certo dia um grupo de clientes me levou para conhecer o museu de Brennand. Como aquele lugar é lindo, saí de lá maravilhada e inundada de cultura. Também amo conhecer e aprender sobre cultura”, revelou Fátima.

O carro-chefe da padaria é a famosa pizza, vendida em retalhos, nos sabores mussarela e calabresa. Tem também os saborosos sanduíches, pães com formatos de jacarés, bolachas e doces e salgados diversos. “Essa pizza faz muito sucesso. Não existe uma igual a essa em outros lugares. Algumas pessoas até pensam que ela é feita de massa de pão, mas é massa de pizza mesmo. Outra coisa que faz sucesso aqui são os meus sanduíches, as pessoas gostam muito. Eu amo quando minha chapa está cheia e adoro quando chegam aqueles clientes que gostam de conversar.”

Aposentada há cinco anos, a portuguesa, como é conhecida pelos frequentadores da padaria, decidiu continuar trabalhando na função de chapeira para complementar a renda, mas também pela paixão que tem pelo que faz. Fátima diz que o trabalho na Padaria Imperatriz foi o seu primeiro emprego no Brasil. “Pouco tempo depois que cheguei ao Brasil, me separei do meu marido e decidi que iria trabalhar. O dono da padaria era português, então, vim na cara e na coragem pedir emprego. Aprendi a função de chapeira olhando as outras funcionárias fazendo os lanches quando era novata”, contou.

Luiz Paulo Cabral, gerente da padaria, não economiza nos elogios para Fátima. “Ela tem uma interação muito grande com os clientes. Fátima tem muita disposição para trabalhar e imprime a identidade dela nos produtos que entrega aos nossos clientes. Muita gente chega aqui e a primeira coisa que faz é perguntar pela portuguesa. E tem também aqueles que só vêm na padaria quando ela está. Nas férias dela têm clientes que chegam aqui e vão embora. Dizem que voltarão quando Fátima retornar das férias.”

Jóia no meio do deserto

A Padaria Imperatriz tem esse nome porque fica na Rua Imperatriz Tereza Cristina, no bairro da Boa Vista. O endereço foi batizado assim em homenagem à esposa de Dom Pedro II após visita do casal ao Recife. Durante muitos anos, a Rua da Imperatriz foi um lugar de grande movimentação de consumidores por conta da quantidade e variedade de lojas que funcionavam no local. Clientes do interior de Pernambuco e até de outros estados vinham fazer compras no Centro do Recife em tempos passados.

No entanto, nos dias atuais, diversos pontos comerciais estão fechados e ostentam placas de aluga-se ou vende-se. O único que resiste firme e forte é a Padaria Imperatriz. Inaugurada no ano de 1897, ela assistiu a tudo que aconteceu naquela rua e hoje é o ponto comercial que mais atrai clientes “Chega a dar uma dor no coração vê a rua desse jeito, sem movimento. Antigamente, era tanta gente passando por aqui que quase a gente não conseguia enxergar o chão. Era um vai e vem muito grande de gente”, recordou a portuguesa.

Pernambuco tem 259 mil idosos trabalhando

As pessoas com mais de 60 anos seguem no mercado de trabalho também em Pernambuco. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua divulgados recentemente pelo IBGE revelam que 259 mil pessoas com 60 anos ou mais estão trabalhando de maneira formal no estado. O levantamento mostra ainda que no segundo trimestre deste ano, 1 milhão e 493 mil pessoas na faixa etária de 40 a 59 anos estão empregadas em Pernambuco. Já os idosos com mais de 60 anos que estavam desempregados no mesmo período chegaram a 408 mil.

Para facilitar o acesso dessa população ao mercado de trabalho, a Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo de Pernambuco está promovendo a ação Sou +50. Além de apoiar os idosos na recolocação, serão oferecidas também orientações para quem desejar empreender. Serão realizadas ainda oficinas sobre o mercado de trabalho e empreendedorismo para que o público-alvo conheça a dinâmica de mercado, assim como aprenda sobre as ferramentas digitais e do mundo dos negócios. A Semana Sou +50 será realizada entre os dias 2 e 6 de setembro, das 8h às 17h, na Casa do Trabalhador, na Rua da Aurora, 425, bairro da Boa Vista.

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