Foto: Reprodução/ @vitrine_filmes

 

Diretor dos filmes “O Som ao Redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019), Kleber Mendonça Filho realizou a pré-estreia de sua nova obra “Retratos Fantasmas” nesta última segunda-feira (14) no Cineteatro do Parque, área central do Recife. O filme é fruto de sete anos de trabalho e marca o retorno do diretor pernambucano ao Festival de Cannes que acontece anualmente na França, sendo um dos mais prestigiados e famosos festivais de cinema no mundo. 

 

Retratos Fantasmas é o quinto longa-metragem do cineasta e tem o centro do Recife como personagem principal, sendo um espaço histórico e humano, revisitado através dos grandes cinemas que serviram como espaços de convívio durante o século XX. O documentário parte da perspectiva de Mendonça e da janela do apartamento onde morou boa parte da vida e filmou várias de suas obras. 

 

O filme foi realizado com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

 

 

PONTO DE PARTIDA

 

“O ponto de partida foi eu ter acompanhado quando ainda estava na Universidade Federal de Pernambuco o fim de várias salas de cinema no final dos anos 80 e início dos anos 90, eu fotografei muitas coisas e filmei em VHS, aquele formato bem caseiro na época, esse material ficou guardado durante muito tempo, o tempo passou e eu continuei trabalhando como jornalista e me tornei um realizador de cinema, voltei para esse material e percebi que eu tinha ali um registro histórico que eu talvez pudesse usar para desenvolver um filme e isso levou um bom tempo. Já tem uns sete anos que eu parti para fazer esse filme, foi feito aos poucos, nesse período eu fiz Bacurau, fiz Aquários, vivi minha vida e trabalhei em outras coisas,  aos poucos esse filme foi ficando pronto e eu estou muito feliz que ele hoje exista do jeito que ele existe.”

 

 7 ANOS DE PROJETO

 

“Foram sete anos de projeto, mas eu acho que eu já vinha pensando nele até mais tempo. Também tivemos o impacto da pandemia que  foi negativo porque uma parte muito importante da pesquisa é a Cinemateca Brasileira, os anos do governo Bolsonaro meio que fecharam a Cinemateca, deixaram numa situação extremamente fragilizada e aí a gente parou de ter acesso, isso foi muito ruim pro projeto. A pandemia influenciou, mas pior ainda foi os anos de Bolsonaro.”

 

DEMOCRATIZAÇÃO DO CINEMA 

 

“Um filme deve passar em todo tipo de sala. Ele deve passar em salas de preços populares e também deve passar nas salas que quiserem exibir, que se por acaso forem essas salas VIP super caras, ok, passa também, mas não pode só passar nelas. Normalmente no sistema de lançamento de um filme, as salas, por exemplo, de multiplex, que são muito caras, exige-se que o filme seja lançado só lá e o filme não pode passar em salas com valores mais baixos, mas a gente quebrou isso no Recife. Em Aquarius, o filme foi muito bem visto no Shopping e foi muito bem visto no Cinema São Luís, então eu acho que o filme deve ser oferecido de todas as formas.”

 

LOCAL DE EXIBIÇÃO

 

“O Parque é um lugar que eu amo, é um lugar que, para mim, faz parte da minha formação. O teatro tem 800 lugares e fica a 50 metros de onde a gente filmou várias cenas do filme. A outra possibilidade seria o Cinema São Luis que está passando por uma reforma, mas se estivesse aberto, eu teria proposto um dia lá  e outro dia no Parque. Tivemos duas sessões na segunda-feira e foi uma das melhores noites da minha vida. Foi muito impressionante aquilo ali. Foi muito bonito.”

 

 

 

Segundo Kleber Mendonça Filho, ainda é cedo para definir se o documentário trará alguma mudança na forma como o centro do Recife é visto, mas que a equipe do prefeito da cidade pareceu muito sensível ao que o filme discute.   O diretor adiantou que apesar de estar trabalhando muito na divulgação de Retratos Fantasmas,  já existe um roteiro pronto para o filme "O Agente Secreto" que será filmado em parceria com Wagner Moura.