O legado e obra do poeta Miró da Muribeca, que completaria 62 anos nesta terça-feira (6), fez com que uma multidão de artistas e amantes da cultura se reunissem na Rua Mamede Simões, numa ocupação cultural poucas vezes vista na via localizada no Centro do Recife. Foi lá que o Bar Super 8 promoveu uma sessão de filmes em homenagem ao aniversariante com a presença de convidados como a poeta e vereadora Cida Pedrosa, o Grupo Magiluth e o médico e cineasta Wilson Freire – estes dois últimos também exibiram curtas que falam do trabalho deste que é um dos maiores poetas contemporâneos do Brasil.

A homenagem contou com a presença de amigos do poeta, como Rosa Maria, do Tempero da Rosa, restaurante que fica no Hotel Central; e Sennór Ramos, que diagramou o livro Miró Até Agora, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Também marcaram presença artistas como Cannibal, Lirinha, Luna Vitrolira, as atrizes Ninive Caldas, Hilda Torres, Nasha Laila, o ator Jorge Clésio, os músicos Juliano Muta e Raphael Tenório (Forró Escaletado), entre tantos outros. A mediação foi feita pelo jornalista Marcus Iglesias.

"A Rua Mamede Simões estava completamente preenchida por artistas do teatro, da música, da poesia e do audiovisual, além de um público apaixonado pela cultura pernambucana que saiu de casa, em plena terça-feira, para celebrar a vida desse grande poeta. Fizemos uma noite incrível e estou muito feliz em ter feito parte dessa história", comemora Marcus Iglesias.

Para Cida Pedrosa, celebrar a vida de um amigo tão querido com poesia é tudo o que ele merece e o que deixa de legado. “Vamos batalhar para que seja aprovado o Dia do Alegrismo, nosso projeto de lei (PL) em sua homenagem, na Câmara Municipal”, destaca a vereadora autora do PL que cria a data para celebrar a obra de Miró da Muribeca.

Durante a sessão, foram exibidos filmes como um curta em que o Magiluth apresenta o espetáculo Miró: Estudo Nº2, em cartaz a partir desta quinta-feira (8), no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, no Recife. As apresentações da montagem, que colocam o poeta da Muribeca no protagonismo do palco, acontecerão até o dia 18 de agosto, das quintas aos sábados, às 20h; e aos domingos, às 17h. Os ingressos estão à venda no Sympla.

“Miró: Estudo Nº2 surgiu a partir da vivência que tivemos com o poeta na época que a gente fazia uma residência artística no Edf. Texas, no Centro do Recife, por volta de 2017. A gente encontrava muito o poeta pelas ruas e acabamos nos aproximando. Foi quando começamos a produzir pequenos vídeos com performances apresentando a poesia de Miró, que ficou muito feliz ao ver que sua obra não era algo restrito à sua performance, mas que podia ser apresentada de outras formas por outros artistas”, destaca Erivaldo Oliveira, um dos atores do Magiluth.

Outro filme que mexeu com as emoções do público foi o Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico (22’01’’), dirigido por Wilson Freire, que participou do debate com o público e se emocionou com a homenagem no dia do aniversário do amigo.

“Esta foi uma das noites mais incríveis que eu presenciei. Assisti a vários documentários sobre o poeta e vi a Mamede Simões repleta de gente, de uma ponta a outra. Foi inesquecível ver as pessoas homenageando o dia do aniversário de Miró, com tanta gente na rua, mostrando também uma coisa que eu acho muito importante que é a força do cinema de rua que o Bar Super 8 está trazendo para o Recife”, opinou Wilson Freire.

Também foram exibidos durante a sessão especial os curtas Miró da Muribeca - Janela de ônibus (1’27’’), Miró da Muribeca - Nosso povo (12’40’’), Miró da Muribeca - O homem do cartaz em branco (0’32), Miró da Muribeca - Onde estará Norma? (23’29’’, com produção, reportagem e edição por Bárbara Cristina, Jacqueline Granja e Patricia Gomes) e Miró da Muribeca - Não deixa uma poesia para amanhã (3’58’’).

Vinicius Costa, sócio do Bar Super 8, ainda não conseguiu processar o que presenciou ontem na Mamede Simões. “Nunca tinha visto uma cena tão linda. Enquanto projetava e cuidava do som, minha atenção se dividia entre a tela e a rua. Ali eu ouvia as falas de Miró, que parecia estar realmente entre nós, percebendo os olhares atentos e cheios de lágrimas de saudade do nosso poeta. As pessoas se aproximavam de mim com um elogio confuso, que se misturava com o bar, com a rua, com a experiência da sessão. E eu só conseguia responder: "Isso foi Miró, minha gente", ele que nos reuniu. Pois era a imagem dele sorrindo que vinha a minha mente”.

O poeta Miró é um dos maiores do Brasil, com cerca de 15 livros publicados e traduzidos para outras línguas. É também um dos autores presentes na exposição permanente no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Neste ano, uma estátua em sua homenagem foi inaugurada na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife, como parte do Circuito da Poesia, que homenageia outras 20 personalidades da literatura e da música na capital pernambucana.